domingo, 8 de maio de 2011

Qual adoece primeiro :o corpo ou a alma?



10 de março de 2009.

*Qual adoece primeiro: o corpo ou a alma? *

A alma não pode adoecer, porque é o que há de perfeito em ti, a alma
evolui,
aprende. Na realidade, boa parte das enfermidades são exatamente o
contrário: são a resistência do corpo emocional e mental à alma. Quando
nossa personalidade resiste aos desígnios da alma, adoecemos.



*A Saúde e as Emoções. Há emoções prejudiciais à saúde? Quais são as que
mais nos prejudicam? *

70 por cento das enfermidades do ser humano vêm do campo da consciência
emocional. As doenças muitas vezes procedem de emoções não processadas,
não
expressadas, reprimidas. O medo, que é a ausência de amor, é a grande
enfermidade, o denominador comum de boa parte das enfermidades que temos
hoje. Quando o temor se congela, afeta os rins, as glândulas
suprarrenais,os
ossos, a energia vital, e pode converter-se em pânico.

*Então nos fazemos de fortes e descuidamos de nossa saúde? *

De heróis os cemitérios estão cheios. Tens que cuidar de ti. Tens teus
limites, não vás além. Tens que reconhecer quais são os teus limites e
superá-los, pois, se não os reconheceres, vais destruir teu corpo.

*Como é que a raiva nos afeta? *

A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva, porque te leva à
autoafirmação, à busca do teu território, a defender o que é teu, o que
é
justo. Porém, quando a raiva se torna irritabilidade, agressividade,
ressentimento, ódio ela se volta contra ti e afeta o fígado, a
digestão, o
sistema imunológico.

*Então a alegria, ao contrário, nos ajuda a permanecer saudáveis? *

A alegria é a mais bela das emoções, porque é a emoção da inocência, do
coração e é a mais curativa de todas, porque não é contrária a nenhuma
outra. Um pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas. A alegria
com
medo leva-nos a contextualizar o medo e a não lhe darmos tanta
importância.

*A alegria acalma os ânimos? *

Sim, a alegria suaviza todas as outras emoções, porque nos permite
processá-las a partir da inocência. A alegria põe as outras emoções em
contato com o coração e dá-lhes um sentido ascendente. Canaliza-as para
que
cheguem ao mundo da mente.

*E a tristeza? *

A tristeza é um sentimento que pode te levar à depressão quando te
deixas
envolver por ela e não a expressas, porem ela também pode te ajudar. A
tristeza te leva a contatares contigo mesmo e a restaurares o controle
interno. Todas as emoções negativas têm seu próprio aspecto
positivo.Tornamo-las negativas quando as reprimimos.

*Convém aceitarmos essas emoções que consideramos negativas como parte
de
nós mesmos? *

Como parte para transformá-las, ou seja, quando se aceitam, fluem, e já
não
se estancam e podem se transmutar. Temos de as canalizar para que
cheguem à
cabeça a partir do coração. Que difícil! Sim, é muito difícil.
Realmente as
emoções básica são o amor e o medo (que é ausência de amor), de modo que
tudo que existe é amor, por excesso ou deficiência. Construtivo ou
destrutivo. Porque também existe o amor que se aferra, o amor que
superprotege, o amor tóxico, destrutivo.

*Como prevenir a enfermidade? *

Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é criarmos saúde. E,
se
criarmos saúde, não teremos que prevenir nem combater a enfermidade,
porque
seremos saúde.

*E se aparecer a doença? *

Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos humanos. Krishnamurti também
adoeceu de um câncer de pâncreas e ele não era alguém que levasse uma
vida
desregrada. Muita gente espiritualmente muito valiosa já adoeceu.
Devemos
explicar isso para aqueles que crêem que adoecer é fracassar.

O fracasso e o êxito são dois mestres e nada mais. E, quando tu és o
aprendiz, tens que aceitar e incorporar a lição da enfermidade em tua
vida..
Cada vez mais as pessoas sofrem de ansiedade. A ansiedade é um
sentimento de
vazio, que às vezes se torna um oco no estômago uma sensação de falta
de
ar. É um vazio existencial que surge quando buscamos fora em vez de
buscarmos dentro. Surge quando buscamos nos acontecimentos externos,
quando
buscamos muleta, apoios externos, quando não temos a solidez da busca
interior. Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos nossa própria
companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com coisas e
posses. Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada vez mais o
vazio
aumenta.

*Então, o que podemos fazer para nos libertarmos dessa angústia? *

Não podemos fazer passar a angústia comendo chocolate ou com mais
calorias,ou buscando um príncipe fora. Só passa a angústia quando
entras em
teu interior, te aceitas como és e te reconcilias contigo mesmo. A
angústia
vem de que não somos o que queremos ser, muito menos o que somos, de
modo
que ficamos no "deveria ser", e não somos nem uma coisa nem outra. O
stress
é outro dos males de nossa época. O stress vem da competitividade, de
que
quero ser perfeito, quero ser melhor, quero ter uma aparência que não é
minha, quero imitar. E realmente só podes competir quando decides ser
um
competidor de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original,
autêntico e não uma fotocópia de ninguém. O stress destrutivo prejudica
o
sistema imunológico. Porém, um bom stress é uma maravilha, porque te
permite
estar alerta e desperto nas crises e poder aproveitá-las como
oportunidades
para emergir a um novo nível de consciência.

*O que nos recomendaria para nos sentirmos melhor com nós mesmos? *

Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso. Passar 20 minutos
consigo
mesmo é o começo da meditação, é estender uma ponte para a verdadeira
saúde,
é aceder o altar interior, o ser interior. Minha recomendação é que a
gente
ponha o relógio para despertar 20 minutos antes, para não tomar o tempo
de
nossas ocupações. Se dedicares, não o tempo que te sobra, mas
esses primeiros minutos da manhã, quando estás rejuvenescido e
descansado,
para meditar, essa pausa vai te recarregar, porque na pausa habita o
potencial da alma.

*O que é para você a felicidade? *

É a essência da vida. É o próprio sentido da vida. Estamos aqui para
sermos
felizes, não para outra coisa. Porém, felicidade não é prazer, é
integridade. Quando todos os sentidos se consagram ao ser, podemos ser
felizes. Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando confiamos em
nós,
quando nos empenhamos transpessoalmente a um nível que transcende o
pequeno
eu ou o pequeno ego. Somos felizes quando temos um sentido que vai mais
além
da vida cotidiana, quando não adiamos a vida, quando não nos alienamos
de
nós mesmos, quando estamos em paz e a salvo com a vida e com nossa
consciência. Viver o Presente.

*É importante viver no presente? Como conseguir? *

Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às expectativas do
futuro
quando nos ancoramos no ser e não no ter, ou a algo ou alguém fora. Eu
digo
que a felicidade tem a ver com a realização, e esta com a capacidade de
habitarmos a realidade. E viver em realidade é sairmos do mundo da
confusão.

*Na sua opinião, estamos tão confusos assim? *

Temos três ilusões enormes que nos confundem:

Primeiro: cremos que somos um corpo e não uma alma, quando o corpo é o
instrumento da vida e se acaba com a morte.

Segundo: cremos que o sentido da vida é o prazer, porém com mais prazer
não
há mais felicidade, senão mais dependência.. Prazer e felicidade não
são o
mesmo. Há que se consagrar o prazer à vida e não a vida ao prazer.

Terceiro: ilusão é o poder; desejamos o poder infinito de viver no
mundo. E
do que realmente necessitamos para viver? Será de amor, por acaso? O
amor,
tão trazido , tão caluniado, é uma força renovadora. O amor é magnífico
porque cria coesão. No amor tudo está vivo, como um rio que se renova a
si
mesmo. No amor a gente sempre pode renovar-se, porque ordena tudo. No
amor
não há usurpação, não há transferência, não há medo, não há
ressentimento,
porque quando tu te ordenas, porque vives o amor, cada coisa ocupa o seu
lugar, e então se restaura a harmonia. Agora, pela perspectiva humana,
nós o
assimilamos com a fraqueza, porém o amor não é fraco.

Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem amamos não nos ama.

uma grande confusão na nossa cultura. Cremos que sofremos por amor,
porém
não é por amor, é por paixão, que é uma variação do apego. O que
habitualmente chamamos de amor é uma droga. Tal qual se depende da
cocaína,
da maconha ou da morfina, também se depende da paixão. É uma muleta para
apoiar-se, em vez de levar alguém no meu coração para libertá-lo e
libertar-me. O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é a
liberdade, e sempre conduz à liberdade. Mas às vezes nos sentimos
atados a
um amor. Se o amor conduz à dependência é Eros. Eros é um fósforo, e
quando
o acendes ele se consome rapidamente em dois minutos e já te queima o
dedo.
Há amores que são assim, pura chispa. Embora essa chispa possa servir
para
acender a lenha do verdadeiro amor. Quando a lenha está acesa, produz
fogo.
Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor.

*Pode nos dar algum conselho para alcançarmos o amor verdadeiro? *

Somente a verdade. Confia na verdade; não tens que ser como a princesa
dos
sonhos do outro, não tens que ser nem mais nem menos do que és. Tens um
direito sagrado, que é o direito de errar; tens outro, que é o direito
de
perdoar, porque o erro é teu mestre.



Ama-te, sê sincero contigo mesmo e leva-te em consideração. Se tu não te
queres, não vais encontrar ninguém que possa te querer. Amor produz
amor. Se
te amas, vais encontrar amor. Se não, vazio. Porém nunca busques
migalhas,
isso é indigno de ti. A chave então é amar-se a si mesmo. E ao próximo
como
a ti mesmo. Se não te amas a ti, não amas a Deus, nem a teu filho,
porque
estás apenas te apegando, estás condicionando o outro. Aceita-te como
és;
não podemos transformar o que não aceitamos, e a vida é uma
corrente permanente de transformações

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