Muitos acontecimentos nos deixam perplexos e desorientados,
quando não temos uma explicação lógica para situações, que nos apresentam totalmente
alheias a nossa vontade.
Mesmo sabendo que as perdas são reais em nossa caminhada, é
difícil entender a calma de alguém que se prepara para nos deixar.
E mais difícil ainda é conviver com a despedida consciente
de alguém que lutou e lutou e lutou e por fim desistiu de seguir.
E os dias ficam pesados porque a viagem é obrigatoria. E sem volta. É o fim
da existência na terra.
É o encerramento do ciclo de vida e o desejo de ficar. De
permanecer. De viver.
Nascer, crescer, morrer e voar. Voar para o infinito, sem passaporte. Voar como os pássaros ao encontro
das nuvens. Deixar-se levar no fluido do vento.
Acreditar no porto seguro em outra dimensão.
Deixar o corpo terreno e transformar-se em luz.
Tudo isso assusta e nos mantem cativos do medo e da
angustia.
De repente não temos mais o que fazer aqui.
O chamado não tem volta.
E os nossos sonhos e aspirações?
Que fazer com eles?
Não há o que levar. As malas são inúteis e sem sentido.
Seremos transportados a algum lugar e não sabemos onde.
É a transitoriedade da vida. E tudo é passageiro.
Não temos como impedir essa viagem.
Num momento chegamos e noutro momento partimos deixando
amores, saudades, apegos.
Mas como desapegar de tudo que tivemos de nos apegar para
viver?
É um paradoxo.
Confesso-me horrorizada com a tranquilidade de quem eu vejo
organizar a própria morte.
O mais difícil é o fim da esperança.
Eu que respiro vida não sei o que fazer. Não há o que fazer.
Isso me desespera.
Um abraço. Um doloroso abraço corta o meu coração. Tento ser forte, mas as pernas me traem.
Tento ser gentil, mas as gentilezas já não representam mais
nada.
O frio é tenebroso. O calor foi sugado pelo outro corpo que
quer viver.
Alguem me diz que o momento é lindo. Mas eu acho trágico e
sem sentido.
O meu apego a vida impede que eu entenda a despedida.
Não há o que fazer. Não é desistência. É obediência.
É tempo de partir. E
o tempo urge.
A missão acabou. É o ponto final.
Nesse movimento e nessa tragédia de alguém que se prepara
para partir, eu percebo o sentido da vida.
Precisamos viver mais leves e mais livres de tantos
preconceitos enraizados em nosso dia a dia.
Há quanto tempo não olhamos as estrelas e tampouco
presenciamos o nascer do sol?
E como vivemos aprisionados em nossas casas, deixando que os
dias passem sem dar um bom dia ao vizinho, sem sair do nosso cantinho seguro
que nada tem de seguro?
Passear, amar, viver.
Nadar na correnteza da vida aprendendo que o rio leva-nos em
seus braços molhados para o infinito.
E o infinito é a nossa próxima parada.
É o fim da jornada e o começo de uma nova vida.
Vida de luz. Será que la os sonhos se tornam realidade?
Saberemos um dia, quando chegarmos ao outro lado da vida.
Nesse momento eu quero viver. Sentir o vento no rosto, amar
sem restrições o homem que ilumina minha vida.
Acordar na madrugada so para ver o sol nascer belo e
grandioso espargindo calor.
Correr pelos campos e buscar os ovos que a galinha botou num
ninho escondidinho la no mato, e brincar
de ser feliz.
Assim eu contemplo a primeira estrela com a alegria de uma
criança que recebeu o mais belo presente.
Bebo da água da fonte que nunca se esvai e nesse coração amante
meu, busco o prazer de estar nessa terra bendita onde corre o mel e cai o mana.
E numa visão linda e inebriante vejo chegando ate meu ser,
um homem lindo que veio me dizer do seu amor.
Estendo os braços num gesto afetivo e corro a seu encontro.
Mas meus braços se curvam em meu próprio corpo.
O perfume deixado no ar me conta que a vida existe alem das
estrelas.
E meu coração entende
a verdade que eu tanto esperava:
- a vida existe alem da vida. E o amor é eterno.
Que a minha amiga siga feliz na senda da gloria.
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