O relacionamento amoroso é um ir e vir de
intermináveis desejos e supremos beijos, onde o calor percorre nossas entranhas
fazendo com que reconheçamos todas as batidas dos corações um do outro e com
elas formamos um circulo de presença e entusiasmo.
Mas que fazer quando “o” para sempre” se transforma
em desilusão e se torna tão vulnerável que nem reconhecemos mais os toques
sutis que nos encantaram um dia.
Ainda não descobri mesmo que navegasse pelos mares
tempestuosos de ondas bravias ou caminhasse pelas praias de areias brancas, ou
pelos desertos e seus oasis de tâmaras, como não deixar-me envolver pelo final
sem sentido de uma relação amorosa, onde se amou muito, se cuidou muito, mas se
deixou levar pela cadencia do finito e imensurável abismo que separa os
incautos amantes.
Ninguem é dono da verdade e muito menos do outro.
O romance é como um trem, que parte de uma estação
com a gente multicolorindo tudo com o entusiasmo e coração em chamas, para uma
viagem longa e ao voltar, ah...ao voltar descobre-se que perdeu a sintonia com
o outro coração e por mais que se lute para religar os fios dourados da paixão,
nada mais importa porque nada mais se conecta.
E a viagem fica ridícula e o trem maravilhoso segue
em seu zig zag levando outros corações e outras almas afins que no final cairão
na mesma armadilha do tempo.
Quem sabe o tempo é o responsável pela desilusão?
Mas se o tempo é atemporal para aqueles que
acreditam no amor, como pode ser o destruidor das ilusões?
Em algum lugar do passado, a vida faz um remanso
onde os enamorados descobrem a vida a dois.
E em algum lugar do futuro acontece o mesmo
movimento, mas o véu cai e mostra o rio caudaloso e desencontrados não entendem
mais o poder do brilho no olhar que ofuscado perdeu o sentido.
E um dos dois chora a partida.
Juntar os pedaços é assustador porque já não dançam
a mesma musica. O som é estéril como é estéril todo movimento que não venha
mais do coração.
O coração é a morada do amor. É vida e criação.
E se o amor se foi o que resta fazer é descer
as escadinhas do trem com o olhar choroso de quem perdeu algo muito valioso e
com a mala nas mãos e cabeça erguida, seguir pelo caminho que se abre em espaço
mínimo entre a estação e linha do tempo.
Penso que entendi agora porque as estações de trem
seguem por caminhos estreitos.
É para que possamos encontrar novas ilusões nesse
ir e vir de chegada e partida, porque pelos caminhos estreitos os olhos se
encontram, os perfumes são sentidos e quem sabe um outro alguém nos espera
ávido de ternura e paixão para vivermos novamente um grande amor.
É a vida que se renova e se refaz dentro de um
processo de perdas e ganhos, acertos e desacertos, glorias e fracassos, mas eu
posso garantir que o brilho do olhar de quem muito amou jamais se perdera na
escuridão.
O coração que uma vez se incendiou de paixão,
ficara marcado pelos momentos felizes onde o tempo não conta, onde o dia
amanhece e o entardecer sem hora de anoitecer espera as estrelas ,sem pressa e
a chegada se mistura na doce esperança do amor eterno.
E pelas passagens estreitas desse encontro e
desencontro eu vejo um lindo olhar que se debruça sobre o meu e me pergunta
para onde vou.
O céu se ilumina e as lágrimas secam. Os batimentos
se aceleram e o corpo esquenta quando eu desavisada descubro que nada se
perdeu.
E assim a vida segue maravilhosa e as estrelas
novamente se encantam porque o brilho é real e permanente e nada que se diga é
o bastante para fazer desistir um coração que encontra outro coração.
É o milagre do amor.
Ainda que caminhemos pelos vales das sombras, ainda
assim a vida se sobrepõe á dor e num milagre supremo os corações descobrem que
o ser afim é aquele que vibra na mesma sintonia e na mesma historia.
E na ternura de mãos que se entrelaçam, eu posso
sentir na tarde que cai, o sabor de estar apaixonada.
Um suave perfume exala ondas de prazer e a vida
ressurge linda.
É a cura do coração.
Maria
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